domingo, 16 de agosto de 2009

O ultimo grande Herói.

Um texto sobre Rafael Machado Bonfim.

E lá veio ele, o meu herói, com caixa nas costas, coração partido e um sorriso nos labios, incrivelmente inabalável como sempre foi, e como parece que nunca vai mudar, e lá veio ele deixando o passado de lutas, de muitas derrotas, de muito suor e lágrimas, de choros contidos e ranger de dentes frequentes nas noites frias dos infinitos setessentos e quatorze dias, mas ele veio, não como havia prometido a sua princesa que hoje mora nos séculos das lembranças que ele nem lembra mais, mas voltou como deveria, com muito menos do que levou, mas voltou assim como se foi, embora já não é mais o mesmo desde o dia em que desesperado ligou as onze da noite pra dizer que iria partir sem dizer adeus.
E é com pessoas assim que eu queria aprender a viver, a amar e a entender as coisas como elas na verdade são, mas quem disse que ele é uma pessoa, quem disse que ele é humano, ele tem algo de divino que insiste em não enxergar, assim como todos nós não enxergamos por puro medo de assumir, assim como ele tem muito de demoníaco, que diariamente ele luta para que apenas dose necessária disso tome conta de seu interior. Sim eu queria aprender, mas tão breve quanto o vejo ele se afasta, apenas deixando pistas de como eu devo descobrir qual o modo que eu devo encarar as coisas em minha vida, pois é da minha vida que se trata, e sendo assim é importante pra ele, e deve ser importante para mim, mas se eu pudesse eu ouviria tudo o que ele tem a dizer, porque ele tem muito a dizer, embora não queira, ou deseja tanto que até teme dizer e não acreditarem.
E como é bom em ter ele por perto, em saber que somos filhos da mesma terra, e que assim que desejar ele vai estar ali, pra fazer o que puder por mim, no mínimo me olhar de longe ao caminhar, ou fazendo uma oração sincera repleta de palavrões que Deus já deve estar acostumado, e até dizendo com os costumeiros olhos vermelho que se for preciso ele dá a vida pra salvar a minha, sem existar. Eu sempre o vejo nos primeiros dias do mês vagando em meio a multidão, sempre apressado, mas olhando cada canto do lugar que generosamente Deus lhe permitiu nascer, crescer, ir embora pra um dia voltar, mas bem nós sabemos que, tudo isso um dia ficará pequeno, e vai deixar as ruas tortas do centro da cidade, isso o assusta, mas deseja isso com tanta força, que as vezes se perde olhando o tão imenso mundo azul que o espera, e ele tão pequeno mediante isso, apenas sonha em dizer a todo ele que ele é daqui, que tem orgulho disso, é o único motivo pelo qual quer sair do interior do fim do mundo, pra dizer pro resto do mundo que o fim é só o começo, e no começo os fracos nem se inscreveram, porém ele, ele foi até o fim.
As vezes eu sinceramente não entendo como ele se coloca em segundo plano, embora o ego dele seja muito maior do que ele é, porém reserva não é a palavra mais apropriada, porque o Senhor do meu herói não atende por reserva, mas sim por Salvação, é a sina de saber e ensinar, então, mesmo que pouco ele tenha herdado, a Salvação não ficou pra trás, então eis a palavra pela qual buscavamos, Salvação, a segunda chance, a única que não pode falhar, o começo sem fim, algo além do que podemos enchergar, mas que podemos acreditar, Salvação que se aproxima e se inclina pra se tornar tão salvo quanto nós, pois não é sua a Salvação, ele precisa ser salvo tanto quanto nós, e exercita isso como bem acha melhor buscando a redenção.
Realmente não faz o que qualquer um faria, mas sim o que qualquer um deveria fazer. Faz além do que apenas a sua parte, porque muita gente tem deixado de fazer o que deveria fazer.
E Hoje ele ensaia em segredo as últimas partes do próximo ato do seu filme que é gravado ao vivo sem ter tempo de edição, cortes, ou segunda chance, os ensaios são a noite enquanto dorme, ou no alto meio dia quando o sol está sobre sua cabeça, enquanto ouve uma canção, mas a maioria das vezes é puro improviso, pois os vilões, as mocinhas, os coadjuvantes, vivem mudando seus textos, e muitos até de personagem, alguns vilões chegam tão perto e se tornam aliados, ele lamenta por algumas mocinhas que se machucam enquanto ele apenas está fazendo o que a tanto quiz fazer, os coadjuvantes ele traz a tona, e exige que se tornem parte do espetáculo também, e algumas mocinhas insistem em não aceitar a realidade de que nada lhes faria tanto bem.
Provavelmente você não o irá reconhecer, suas roupas não demonstram nada, são opacas como as sobras, nem cabelos compridos usa mais, ele não carrega nada consigo além de seu ego, raízes, memórias, ideais e a certeza que existe um Deus a lhe guiar.
Provalmente ele não quer nada em troca, a não ser a certeza de que é um cara legal que fez o melhor que pode pra colocar um sorriso em seu dia.
Certamente ele só quer ser feliz do seu jeito, e ser reconhecido por isso.
Em dias assim eu entendo que meu herói é tão eu quanto eu, e que sou tão herói quanto ele.
Em dias assim eu entendo que meu herói só quer ir embora pra voltar pra casa.
Em dias assim eu entendo que meu herói gostaria de ser Deus pra voltar a ser humano e viver assim eternamente.

Fotos: "Rafa!", "Cascavel" e "Sucata" by: Jéssica S. Bezz Batti
Ler ouvindo: "My hero" (acoustic version) - Foo Fighters.